Eu já quis ser jornalista. Mas entre cinco anos de faculdade e a certeza de que escrever bem é algo inatingível, percebi que tudo o que eu sempre quis, na verdade, era poder me expressar com palavras. Eu poderia ter sonhado em ser roteirista, escritor, redator publicitário ou até tradutor. Escolhi o jornalismo porque, dentre tantas outras profissões, nenhuma me parecia tão adequada.
Filho de jornalista, testemunhei todas as delícias de um tempo em que a profissão era sinônimo de liberdade, boemia e forte personalidade. Hoje, sinto nostalgia de um tempo de glória que testumunhei de baixo, com os olhos de uma criança: uma velha Olivetti sendo datilografada em casa, reuniões políticas de bastidores em que gargalhadas sinceras se misturavam com planos maléficos para dominar o mundo, notinhas de jornal que faziam efeito toda vez que nos sentíamos injustiçados.
A distância física e a aproximação virtual das pessoas transformou o que me parecia ser a melhor profissão do mundo em algo novo, que apesar de ter o mesmo nome não poderia ser mais diferente. Gostaria de saber se, em algum lugar escondido, esse jornalismo que vivi ainda existe, protegido da evolução tecnológica, da informação instantânea e do mundo globalizado. Por ora, a certeza que tenho é que escolhi a profissão errada: hoje, me parece que ser jornalista tem cada vez menos a ver com se expressar com palavras.