Archive for March, 2011

A profissão que nunca tive
March 25, 2011

Eu já quis ser jornalista. Mas entre cinco anos de faculdade e a certeza de que escrever bem é algo inatingível, percebi que tudo o que eu sempre quis, na verdade, era poder me expressar com palavras. Eu poderia ter sonhado em ser roteirista, escritor, redator publicitário ou até tradutor. Escolhi o jornalismo porque, dentre tantas outras profissões, nenhuma me parecia tão adequada.

Filho de jornalista, testemunhei todas as delícias de um tempo em que a profissão era sinônimo de liberdade, boemia e forte personalidade. Hoje, sinto nostalgia de um tempo de glória que testumunhei de baixo, com os olhos de uma criança: uma velha Olivetti sendo datilografada em casa, reuniões políticas de bastidores em que gargalhadas sinceras se misturavam com planos maléficos para dominar o mundo, notinhas de jornal que faziam efeito toda vez que nos sentíamos injustiçados.

A distância física e a aproximação virtual das pessoas transformou o que me parecia ser a melhor profissão do mundo em algo novo, que apesar de ter o mesmo nome não poderia ser mais diferente. Gostaria de saber se, em algum lugar escondido, esse jornalismo que vivi ainda existe, protegido da evolução tecnológica, da informação instantânea e do mundo globalizado. Por ora, a certeza que tenho é que escolhi a profissão errada: hoje, me parece que ser jornalista tem cada vez menos a ver com se expressar com palavras.

A rede social
March 24, 2011

Quer dizer, antes as pessoas decidiam que estavam namorando – e pronto. Mas hoje, com toda essa coisa chata de ter que atualizar o status quo nas redes sociais, até um simples início de namoro passa a ser aquela coisa burocrática de dar satisfações a todos os familiares, amigos e desconhecidos sobre sim, o que está acontecendo, quem é a menina, de onde ela é, como se conheceram e, mas peraí, você já não estava quaaase para se mudar para o Rio?

Aí acontece que não, eu não sei o que vai acontecer quando eu me mudar e não, eu não quero pensar nisso agora. E como toda vez que alguém pergunta, machuca ter que pensar em uma resposta, taí: prefiro continuar naquele status completamente obscuro em que você tem tudo o que um namorado teria e faz tudo o que um namorado faria, mas, na verdade, sacumé, né? – não está namorando.

Por mim, tudo beleza, mas quem disse que a praticamente-namorada concorda? É nessas horas que você agradece aos céus pelo Facebook – esse lindo – pensar em tudo por você. Status de relacionamento? Amizade colorida. Forte o suficiente para demarcar qualquer território e fraco o suficiente para que  familiares/amigos intrometidos percebam que existe algo de incompleto ali e não se atrevam a pedir informações.

Boa ideia, mas funciona? Não sei. Depois de toda a discussão, ela avisa que tá, até prefere que o status fique assim, vazio mesmo. E eu? Eu entro na crise existencial mais sem sentido ever, claro: estou, não estou ou quase estou namorando?