Desde o ano passado, eu noto que estou ficando careca. Começou com meu chefe reclamando dos fios de cabelo no teclado do computador da agência. Depois, comigo mesmo reclamando dos fios de cabelo no teclado do computador de casa. Aí, veio o roommate reclamando do número de fios (de cabelo ou não) no ralo do banheiro. A todos esses sintomas de calvície, eu respondia com nervosismo, seguido de um leve acesso de pânico, pânico total, tentativas de suicídio e, repentinamente, calma instantânea: não é nada, não pode ser nada, é que eu tenho muito cabelo, e ele só cai porque tem muito, isso é normal, pronto, acabou.
Mas não acabou. Fui à dermatologista, ela fez os exames e deu o veredito: sim, fudeu, e a única forma que você tem pra contornar isso é tomar um remédio que talvez detone (e detonou) a sua libido. Ou seja: ou você fica feio pelo resto da vida ou… impotente pelo resto da vida. Acredite, tem quem escolha a segunda opção.
E isso esculhamba a minha vida porque, porra, eu vou começar uma nova faculdade, abandonar tudo para ficar desempregado no Rio, e tenho só 23 anos, idade em que eu certamente deveria ter um emprego mas certamente não deveria ficar careca, e agora lá estarei eu, calouro, com uma cara perdida de Woody Allen em meio aos outros calouros sarados, morenos e cabeludos de 18 anos na Uerj.
Eu tava levando até na moral a ideia de não ter carinha de 18, não ter corpinho de 18, e sempre ter tido tamanho de 15, mas aí a genética não se contenta e me informa que há grandes chances de que, em dois anos, eu tenha uma careca de… sei lá, 42. As pessoas tentam me confortar apontando carecas bonitos como o Vin Diesel ou o Bruce Willis, mas esses obviamente não adiantam, porque porra, são os que têm carinha e corpinho de 18.
E, cara, esse cabelo desgrenhado sempre fez tão parte do meu estilo. Eu só fico lembrando da época em que trabalhava no Banco do Brasil e o gerente implorava (e até pagava) para eu cortar a cabeleira, porque tinha vergonha do superintendente reclamar. Eis aí a ironia da vida: quando eu tinha aparência de universitário, escolhi ser bancário. Agora que vou ter aparência de bancário, claro, lá vou eu ser universitário novamente. Aos 19 anos, não é todo mundo que tem um emprego fixo, estável e bem remunerado. Aos 23, não é todo mundo que fica careca e desempregado. E, além do Benjamin Button, eu não conheço mais ninguém cuja vida ande para trás.